sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O que faz valer a pena?

O momento singular
e só nosso,
tão puro,
tão efêmero.

Fica na mente,
na pele,
no som da respiração;
fica pra sempre
a sensação
de que viver,
de que estar
e experimentar
faz do obstáculo
um pequenino detalhe.

O momento único

"Esta manhã, casais de borboletas brancas, douradas, azuis, passam inúmeras contra o fundo de bambus e samambaias da montanha.

É um prazer para mim vê-las voar, não o seria, porém, pregá-las em um quadro... Eu não quisera guardar delas senão a impressão viva, o frêmito de alegria da natureza, quando elas cruzam o ar, agitando as flores. Em uma coleção, é certo, eu as teria sempre diante da vista, mortas, porém, como uma poeira conservada junta pelas cores sem vida... O modo único para mim de guardar essas borboletas eternamente as mesmas, seria fixar o seu vôo instantâneo pela minha nota íntima equivalente...

Como com as borboletas, assim com todos os outros deslumbramentos da vida... De nada nos serve recolher o despojo; o que importa é só o raio que nos feriu, o nosso contato com eles... e este como que eles também o levam embora consigo."


Joaquim Nabuco, do prefácio à "Minha Formação"