terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vozes da biblioteca.

Eu converso com meus livros.
["louca!", pensou agora quem leu.]
Digo mais: falo com eles porque eles falam comigo primeiro!
["seu caso é sério, moça!", faz o leitor acenando a cabeça com piedade...]

Acho que não houve voz que ecoasse mais forte em minha vida que a de alguns autores que tenho na estante.
Tenho familiares incrivelmente sábios, formados não pelas universidades mas pela própria vida. Tenho amigos que me ensinam diariamente e compartilham de experiências que jamais esquecerei. Tive a sorte de conviver com bons mestres, que me marcaram profundamente. Mas, insisto, nada pesa mais em meu espírito quanto algumas palavras impressas nas muitas páginas que já li até hoje.

A relação de um leitor apaixonado com seu livro transcende as explicações rasteiras. É algo muito mais profundo. Ler um livro não é apenas conhecer uma história qualquer, entender um punhado de palavras que, organizadamente, compõem um texto.

Ler um livro é conhecer um pouco da alma de um estranho. Ler um livro é tomar para si um pouco da angústia, da alegria, dos sorrisos e das dores de alguém que nunca te viu, mas que, de alguma forma, está sujeito às mesmas mazelas e paixões que você.

Ler um bom livro é deparar-se com um figura desconsertante: o autor. Um sujeito que é como qualquer mortal que caminha embaixo desse céu, mas que tem um "não-sei-o-quê-não-sei-como" de mágico, um fascinante equilíbrio na linha que divide os extremos, um excitante privilégio de não ter que se explicar.
Um autor que se preze sempre fala um pouco de si mesmo, doa um pouco da sua alma, do que tem de melhor e pior. Por isso não gosto de livros de auto-ajuda. Um bom autor não te dá um manual para a felicidade. Um bom autor te dá uma sugestão: abra-se a sensibilidade, conheça um pouco do meu olhar e descubra o que temos em comum.

O momento da leitura tem um toque de sagrado, e é quase como uma ida ao confessionário. É uma conversa aberta, livre de timidez e constrangimentos.
Diante do meu livro, posso admitir o que sou; a arte me absolve. Estamos ali, só nós dois. Mais que amigos: cúmplices de um segredo, estranhos confidentes. Eu não o trairei. Sei que ele também não.


"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde.""
André Maurois

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Transição

Meu lado poético parece dormir no momento. Me vêm à cabeça muitas ideias e construções para textos que fogem àquela mínima estrutura que um poema pede.
Ou talvez meu inconsciente deseje uma simplificação das coisas. Foco e objetividade. De mal com o que me ilude, me atenho a aspereza do texto curto [ou não] e grosso, da palavra como ela é, sem rodeios ou figuras, sem usar a maquiagem do lirismo na cara lavada do dia-a-dia.