sexta-feira, 28 de maio de 2010

Borboleta


Uma borboleta azul pousou em minha janela
e trouxe com ela um novo olhar,
uma contradição:
mais realismo diante da vida,
mais sonho para temperar a vida.

Uma borboleta azul pousou em minha janela
e trouxe com ela uma nova estratégia,
uma preparação:
é possível trazer o longe pra perto,
pra saudade ainda existe saída.

Uma borboleta azul pousou em minha janela
e trouxe com ela uma doce certeza,
uma revelação:
nada é pra sempre,
muito menos a distância;
não é o fim a partida...

Ainda é das minhas mãos o poder
de transformar o dia cinzento
em tarde multicolorida.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

C'est la vie.

"L'homme est ainsi, cher monsieur, il a deux faces: il ne peut pas aimer sans s'aimer."

"O homem é assim, caro senhor, com duas faces: não consegue amar sem se amar."

Albert Camus, em "La Chute" ("A Queda)"

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sui generis

"Mas um dos traços do gênio é não arrastar seu pensamento no carreiro traçado pelo vulgo"*

Meu maior desafio na vida é fugir dos rótulos,
do óbvio, do previsível,
daquilo que, aos olhares medíocres, é chamado de normal.

Sim, meu riso é mais alto e solto;
Sim, meus olhos falam, por vezes mais que minha boca;
Não, não meço palavras nem gestos quando digo o que penso.
Não se espante! Não faço questão de ser simpática.
Não me iludo com aplausos; apaixono-me ao despertar a fúria;
Não me afeto com agravos; o que me incomoda é a impassibilidade.
E mais que tudo: não simpatizo nem comungo com a imparcialidade.

Sou parcial e passional. Sou estranha e extraordinária.
Se quero, penso, arquiteto, imagino... e faço!
E não me encaixo. Ah, meu bem! Eu não me encaixo,
em nenhum conceito, em nenhuma fórmula.

Mais que ser amada, meu desejo é ser lembrada,
é ser olhada,
é intrigar, é desconsertar.
E mais: é fazer você pensar!
Ainda que seja mal de mim...

Pensar diferente. Fazer diferente.
Ser diferente.
O caminho que escolhi é minha cura,
e é meu veneno;
É minha alegria, e é minha dor.
E é um peso... olha, é um peso!
Peso que eu ainda carrego com graça,
e certa destreza, posso afirmar.

Não me preocupo com o que podem pensar de mim,
mas eu sempre, sempre espero uma resposta!
Ainda bem que ela sempre vem.
E vem com um gosto bom, seja resposta 'boa' ou 'ruim'.
Melhor sabor do mundo: gosto de não passar despercebido!
E eu saboreio... ah, eu saboreio!

É um deleite saber que não se é apenas mais um!

*Stendhal, O Vermelho e o Negro.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Indagação

"Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?..."

Álvaro de Campos
(Ficções do Interlúdio/4)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Desejo

Quero estar sempre em estado de doce loucura
para suprimir o que há de amargo na vida.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Levemente Absorta

Debruçada em minha janela
ouço o barulho das ruas:
carros, pessoas e pressa,
muita pressa.

Não é difícil deixar-me levar pelos pensamentos
aos momentos doces, às memórias marcantes,
lembranças cheirosas do meu caminho.
Fecho os olhos e, sem esforço, consigo
ouvir os risos, sentir os toques,
enxergar novamente o brilho em cada olhar,
em cada gesto;
cada detalhe carregado de tanto sentido.

Inspiro e expiro lentamente.
Sinto com clareza cada batida do meu coração.
Sorrio para o imenso céu azulado do início da noite
ao perceber que, talvez, nesse mundo inteiro
eu seja a única a não ter pressa.

Coisa boa nessa vida é ter algo para sentir saudade.


*******


E o menino com o brilho do sol
Na menina dos olhos
Sorri e estende a mão
Entregando o seu coração
E eu entrego o meu coração
E eu entro na roda
E canto as antigas cantigas
De amigo irmão
As canções de amanhecer
Lumiar e escuridão

E é como se eu despertasse de um sonho
Que não me deixou viver
E a vida explodisse em meu peito
Com as cores que eu não sonhei
E é como se eu descobrisse que a força
Esteve o tempo todo em mim
E é como se então de repente eu chegasse
Ao fundo do fim
De volta ao começo
Ao fundo do fim
De volta ao começo

(De Volta ao Começo, Gonzaguinha)